E a preguiça foi embora…
Bom dia leitores! Manhã fria de junho, a gente acorda, estica os braços, pega melhor o cobertor, se enrosca e tal qual Macunaíma, boceja: “ai que preguiça!” Creio que não vou me levantar, estou de greve, nada de preparar café, nem almoço, é a revolta da Mucama, que não vai mesmo fazer nada hoje. Prefiro ficar aqui, está tão quentinho, que “correr que nada”, fico inerte, escondida, pensando na morte da bezerra, coitada, ela acabou virando churrasco para saciar nossa gula! Nada de filosofias, nada de pensar, há uma música do beattle Paul McCartney que pergunta: “qual o uso da preocupação?” Concordo não vou me preocupar, afinal, sou uma velhinha aposentada que “nada” tem para fazer, “eta vida besta, meu Deus!” Opa! O verso de Drummond em “Cidadezinha qualquer” me traz à mente outras poesias, penso em escritores, no trabalho lindo do Clesi, divulgando a Poesia e a Literatura e me lembro de Goretti Freitas. Ô mulher arretada, que coisas lindas e profundas ela escreve! Quem a vê, calada, discreta, nem imagina do que é capaz! Seus poemas são lindos, os haicais, são profundos, os causos mineiros de seu livro são engraçadíssimos… Afora isto, faz um trabalho maravilhoso, ajudando crianças com dificuldade em leitura, ensina dobraduras e é tão prendada, que fico até vexada com minha falta de talento para trabalhos manuais. No último Salão do Livro, lançou no estande do Clesi, um livro intitulado “Felipe e seus barquinhos”. À primeira vista seria só mais um livro, não fosse Goretti uma cabeça iluminada, com visão de educadora maior sobre as possibilidades de ensino.
Então, na verdade, o livro, de poucas páginas, tem múltiplas formas de ser trabalhado. Veja sua fala: “Filipe e seus barquinhos” vem nos lembrar que o mundo não é disciplinar, nem feito de conhecimentos isolados. Por acreditar nisto, surgiu este livro apresentando uma abordagem interdisciplinar que além de romper com a divisão hermética das disciplinas, dá significado ao conteúdo desde que seja bem planejado e sem perder de vista a sistematização. Ele é um livro que permite enfocar análises, levantamento de hipóteses, descobertas e muita criatividade devido aos motes que vão surgindo durante a leitura, que tendem a ser produtivos se forem abordados de forma ampla. Oferece aos pais ou educadores a possibilidade de fazerem o papel de mediador, sugerindo e provocando diálogos. Dá liberdade para que seja feito um passeio por várias áreas do conhecimento, brincando, aprendendo, criando e fazendo descobertas incríveis, tais como: primeiro pensei na Língua Portuguesa, nas questões da escrita, das leituras… Fazendo Artes. Apostei na mistura das cores, para descobrir e criar. Vi que essa brincadeira das misturas poderia levar às noções de Química. Pensando na Matemática várias ideias surgiram: noção de conjuntos, quantidade, sistema de numeração, ordenação, seriação, frações e outros. Sem falar na geometria das dobraduras, mostrando linhas retas, paralelas, perpendiculares, figuras planas, ângulos e bissetriz. E com as mãos e o cérebro em movimento, sem dúvida, haverá o aumento da capacidade de concentração, estímulo à atenção, autonomia, memória, desenvolvimento da coordenação motora, motricidade fina, visão espacial e forma de expressão.
Espero que todos nós possamos fazer bom uso do livro “Filipe e seus barquinhos”, deixando-nos interpenetrar nas diversas áreas do saber que ele permite com o desejo de criar, inovar, brincar, aprender e ir além, transcendendo na busca de um ser maior que está dentro de nós mesmos. E que cada um consiga ouvir a si mesmo e o outro. É assim que eu entendo o educador interdisciplinar.”
Uau! – grande Goretti – quem poderia imaginar quantos passos se pode dar no ensino a partir de uma abordagem como esta? Gertrud aplaude, do pé de jabuticaba e eu me sinto feliz por conhecer uma pessoa tão notável quanto você e por pertencer ao Clesi, que tem revelado tantos escritores para a comunidade regional e para todo o Brasil! Alma alimentada, afasto as cobertas e me levanto animada: vai sair um almoço caprichado para as minhas crianças! E nada mais digo, a não ser que a Leitura transforma o mundo!
Nena de Castro
Crônica publicada no DA de 14/06/2011