2º lugar – Luminância
Cláudia Albers Avóglio – Pirassununga-SP
O Dividido
Esse verbo sempre
na primeira pessoa,
esse orgulho bobo,
essa mansidão escondida
sob a pele de lobo…
Essa fome constante,
e essa paz que não tens
no amor que te convém.
A fé indecisa que te impele
a seguir adiante…
Essa água benta de bilha,
que ora bebes,
ora asperges
nesse culto herege
a um deus de mentira.
Loucura do Poeta
Dobrou todos os pássaros, feito origami,
juntou aqui e ali pedaços de vento,
apagou as estrelas do corredor,
trancou a boca da noite com chave de ouro,
deu corda no tempo
e desceu os degraus da queda de dois em dois.
Foi viver como poeta
entre metáforas de vida fácil
e bêbados por profissão.
E se desventurou entre os malhos,
entre gravetos secos, quebrados,
entre cantos e cifras,
espalhado
no redemoinho de mofos teatros.
Bebeu,
secou todos os oceanos,
queimou em febre, chorou, ardeu,
no fundo dos interiores planos.
Vomitou versos vãos,
e entre estertores e escarros,
sereno,
adormeceu.
Ah, Poesia
Vem deitar nessa folha de papel.
Faze dela lençol nupcial,
aconchego de tropel
e inquietude.
Incorpora um poema,
rola com ele pela noite adentro,
deixa teu suor molhar o verbo.
Penetra a alma vazia,
explode,
que a saudade está doendo…
Vem amar na euforia
da palavra que te espera.
Baila com ela ritmada dança,
e deixa na página branca
a mancha testemunhal
da tua presença.
Solidão
Ela cantava
para ouvir a própria voz
e acenava ao nada,
em infundada espera
de alguma resposta…
Estendia a mão
para além da janela,
para que os pássaros,
pousassem nela.
Mas nenhum,
nunca pousou…
Ligava o rádio
e num diálogo absurdo
dizia a Schubert:
Volta,
estou te esperando!…
Colhia gerânios com alegria,
despetalava-os:
– Bem-me-quer, mal-me-quer…
e se enfeitava para o amado
(que nunca viria),
como toda mulher…
A Fera e a Poeta
Moram dentro de mim
duas lobas famintas
de apetites distintos.
Uma é a fera que se alimenta
do ódio, da hipocrisia
e das verdades que omito.
A outra é mansa,
sonha e sorve a poesia
que lhe dou aos goles.
À besta, basta o vento
soprado dos foles
para acender sua ira.
Já a mansa
tem a inapetência
dos poetas em transe
e a sede da criança
que brinca distraída.
Iludo-as até que se cansem
e encho suas talhas
de metáforas e mentiras.
Lista de premiados do 9° Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga
Lista de Premiados de 2011/2012