9º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga

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Menção Honrosa – Perdas e Danos
Madô Martins – Santos – SP

Perdas e Danos

Soube da tua morte
por amigos.
Eu, que há muito
te sepultara,
sete palmos abaixo da memória.
Já não me encantavam
teu sorriso de fauno,
a teia dos teus olhos,
tuas mentiras bem montadas.
Agora voltas
para me assombrar.
E sou eu quem morre
a cada dia,
sabendo que já não existes
nem ao menos
para eu me vingar.

Quase

Quase viúva,
do mesmo jeito
que fui quase amada,
quase esposa,
quase feliz.
Deixas a obra completa
e, mais uma vez,
sais ileso,
desertando do estrago.
Não te bastou
fazer-me frustrada em vida.
Tinhas que definhar
longe, em segredo,
e morrer
sem me dar qualquer chance.
Tinhas que me deixar
à margem,
pela última vez
e para sempre.

Lembranças

Vem à tona
antigas lembranças
que eu julgava felizes.
Só agora compreendo
que eram apenas
a minha versão dos fatos,
sob a luz da paixão.
Éramos dois,
mas não estavam comigo
teu coração e tua mente.
Apenas um corpo
que se dava a intimidades
sem se tornar íntimo.

Voz

Em sonhos
ainda escuto
tua voz de veludo,
distante
como se falasse
ao telefone.
Com ela vem
teu riso,
cristalino
como o de um menino.
Chegam-me
tuas mãos
que nunca perceberam
que machucavam
as minhas,
com tua força de homem.
E a tua indiferença,
esta sim,
próxima e real.

Revés

Vista esta dor
pelo avesso

e, mesmo assim,
me sufoca.
Erro botões e casas,
desemparceirados
como fomos nós.
Descosturo
pregas e bainhas,
fazendo-me rota
como aquele amor.
Ando maltrapilha,
desde a tua morte.
Talvez seja mortalha
o que agora uso
por baixo da pele,
por dentro dos olhos,
impregnada de silêncio.
E tudo vai se esfiapando,
até que um dia
estarei nua,
sem nada do que lembrar,
sem nada para amar.