Menção Honrosa – Sina
Andreia Mendes Lemos – Ipatinga-MG
Convergência
Quantos céus de mar e flores
habitarão seus olhos?
Quanto tédio ainda escapará
do seu sorriso ácido?
Não restam mágoas,
mas no peito uma saudade ardida.
Em meu quarto brumas de desejo,
na garganta o nó da sua distância habita
Noites a fio quis convergir ao seu destino,
tornar seu meu cio,
cessar em mim o seu ócio.
Se me faço por seus olhos, sou desalinho.
Na sua boca busco amparo
e me ignoro.
Sina
Da vida posta ao avesso
me vêm os versos.
E caminhos tortuosos sobrevoo.
Do meu gozo, previsível, regozijo.
Mas de lágrimas e letras,
sobre máculas do instante,
poetizo.
Improvável
Do lado esquerdo do peito,
do vão da porta mal fechada,
brota o eco de um silêncio agudo.
Para onde me levaste a alma?
Agora sei,
que soterrada te encontro, Esperança!
És a insólita flor do abismo.
A cinza que ao vento, improvável,
eclode em chama.
Desencontro
Dá-me de volta o porquê
do meu primeiro grito.
E te retiro a luz,
para que me apalpes.
Entreguei-te o rosto limpo,
não me escondeste o susto.
Me obrigaste à verdade, fim de tudo,
quando eu buscava a mentira doce e pura dos começos.
Plenitude
Li Neruda em seus olhos.
Bebi Chagall dos seus beijos.
Sem defesa, vi-me no excesso,
perdida na vastidão fecunda do seu deserto.
Embriaguez, tintura da vida…
Entregue ao insólito, não quero resgate.
Despida de razão, mergulho em seu invólucro.
Sorvo o mundo em seu embalo, e me basta.